Aqui vou publicar alguns poemas, histórias e não só, criados pela minha mãe

segunda-feira, 23 de março de 2015

Encontro de duas primas



> Olá prima Bia tás boa? Há tante tempe que nã te prantava a vista em cima, já tinha precurado por ti à prima Anequinha do "pouca roupa", ela disse que há munto tempe que nã te via.

> Pois é prima Sarafina , sabes, há uma remessa de tempe que nã vinha ao Povo; pôs eu tenho tado munto doenti, nã posso quemer quasi nada, fico logo com umas agasturas e almariações nos cornos, na posso bêr lête, quemida que leve azête e venagre. Agora tu filha duma magana tás gorda que nam uma porca!

> Oh filha do diabe tás a chamar-me de porca?... Mas é verdade, desde que mê hóme foi p'ra  França tenho tido uma vida regalada, ele tem mandado bom dinheirinho; Graças ao Pai do Céu, com o que ele manda tamem o dinheiro das alfarrobinhas, olha forri para comprar a casa da prima Farrobinha.  Alembraste-te da casa? Sabes ela já merreu, os filhos nâ querem saber daquilo e vendem, e como fica ao pé da minha terra da Cabeça da Aguida mê hóme quer que eu compre, só tou à espera que ele venha.

> Ah, ainda bem! Dês queira que tenhas sorte, isto a minha vida desde que a roda desandou tem sido só aponquentações, as vézes fico mesmo marafada, nã basta eu nã ter saúdi se não meu hóme ainda em cima.

> 'dés prima gostei munto de te veri, dá soidades ao teu hóme e molhoras aos dôs, tem lá paciença.
Dês Nosso Senhor te ajude.

© Maria de Jesus (Bi Ju)


Os erros ortográficos são propositados, para que seja lido com sotaque Algarvio. As pessoas de Paderne antigamente falavam assim, apesar que  no interior Algarvio ainda se encontra quem mantenha este modo de falar.

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