Aqui vou publicar alguns poemas, histórias e não só, criados pela minha mãe

domingo, 23 de agosto de 2015

A Minha Casinha

Aqui da minha casinha
vagueio o meu olhar
sobre as terras e os montes
avisto também o mar
A alfarrobeira centenária que se avista da janela da cozinha da minha mãe.

Logo pela manha
Alegra meu despertar
O gorjeio dos passarinhos
que me vêem acordar

À noite tudo é silencio
fresca brisa me acalma
sinto paz dentro de mim
repousa a minha alma

No inverno o frio aperta
aqui no alto do monte
mas compensa a paisagem
que se avista aqui de fronte

Dizem que isto aqui é só,
que está longe da cidade
que os caminhos têm pó
realmente tudo é verdade

Mas a mim pouco me importa
talvez porque é muito meu
vivo aqui no paraíso
estou mais perto do céu.
Maria de Jesus

Gostava de poder dizer que a minha mãe pode ficar no seu cantinho, a desfrutar da sua casa e viver sua velhice. Mas ficar neste local, tão só, e sem ninguém para poder lá ficar e a acompanhar. Com a sua demência e também a doença que começava a alastrar... o cancro não perdoa, só teima a piorar.
Hoje está num lar, custou-me muito tomar esta decisão, não sei se fiz bem ou se fiz mal... já vai fazer quase um ano que ela está lá, nem ela sabe ao certo, pois não dá pelo tempo passar. Talvez seja uma bênção ela ter a demência, assim não sofre tanto com as saudades da sua casinha, pensa que ainda volta, só está ali (no lar) uns dias, até melhorar... coitadinha da minha mãe, pois está cada vez pior, com a dose de morfina já aumentada, cada vez mais magrinha... porque temos de sofrer assim? Não consigo aceitar, muitas vezes penso; há eutanásia para nossos animais de estimação, para que não sofram, porque não para nossos amados quando não há nada a fazer? Resta-nos só ficar a olhar e vê-los a sofrer? "Tristeza de vida" diz a minha mãe muitas vezes.
Ela pode ter demência, mas tem a perfeita noção do que a rodeia, no momento.
E suponho que felizmente!
E tentando dar um ar mais alegre neste meu desabafo, também tem dias felizes ou até, apenas alguns momentos, quando tem visitas, quando recebe uns miminhos, ou quando fazem festas no lar e ela dança, dança todo o tempo.
Por isso, há que ter paciência e aceitar o que a vida nos dá e fazer o melhor possível... ser feliz e a todos respeitar.
Elia Silva

1 comentário:

  1. estranhos os mistérios da vida, estranho o que o fim da vida traz, estranha a morte ...

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